Começo meu texto com uma frase de Clarice Lispector que me identifico muito:
“O caminho que eu escolhi é o caminho do amor. Não importam as dores, as angústias, nem as decepções que eu vou ter que encarar. Escolhi ser verdadeira. No meu caminho, o abraço é apertado, o aperto de mão é sincero, por isso não estranhe minha maneira de sorrir, de te desejar o bem. É só assim que eu enxergo a vida, e é só assim que eu acredito que valha a pena viver.”
O “escolhi ser verdadeira”, diz muito sobre o acordo que fiz comigo mesma, de sempre escutar meu coração, de estar alinhada com meu propósito, de ser quem eu sou sem máscaras, sem medos, sem projeções, sem a preocupação de atender a expectativa de alguém.
E é este adulto que devemos ser, é com esta essência que temos que nos reconectar. E com esse gancho que agora, finalmente, vou falar sobre como está sendo a experiência que estou vivendo como voluntária aqui na @CidadeEscolaAyni, bem como as fichas que estão caindo.
Há mais de um mês, precisamente no dia 5 de julho, cheguei em Guaporé/RS para fazer um curso sobre Permacultura e Re engenharia do ser, e Bioconstrução, e foi após esses cursos que comecei meu período aqui na Ayni como voluntária.
Para aqueles que não conhecem, a Cidade Escola Ayni é um projeto com o objetivo de oferecer uma Nova Educação para nossos pequenos, é uma escola que está sendo construída dentro de um bosque, onde as crianças além de ter contato com a natureza, terão um espaço livre para serem elas mesmas. Uma proposta de educação baseada no amor, no respeito, na troca… não só entre seus amiguinhos, sua família, sua comunidade, mas também com a natureza, ou seja, sua Casa. A Ayni sabe a responsabilidade que tem com o planeta, com a sustentabilidade, bem como o respeito com a essência de cada indivíduo, e seu papel no desenvolvimento do senso de comunidade; com o papel de apoiar o desenvolvimento dessas crianças para o caminhar de uma Nova Era.
Só que durante esse tempo aqui fui percebendo que as coisas vão um pouco além disso. Talvez o nosso foco não deva ser só as crianças…
Fui percebendo que os adultos que foram chegando por aqui, tanto para os cursos, como para o trabalho voluntário, foram sendo tocados e atraídos para cá por algum motivo maior. Um motivo que vai além do “achar um projeto legal de educação”.
Quem chega, são mais que pais querendo conhecer o projeto de uma nova escola, são mais que educadores atraídos por uma nova forma de educação, são mais do que pessoas que querem fazer um curso de bioconstrução e/ou permacultura. Na verdade o que atrai essas pessoas para cá, é uma identificação, um chamado de algo alinhado com o que elas sentem dentro delas, e que muitas nem sabem ainda. Algo que está dizendo que o que existe por aí não “funciona” mais, e aqui vê alguma coisa que por algum motivo ressoa, faz sentido. É como um imã, um imã que está atraindo pessoas com a mesma vibração, querendo despertar para o que realmente são, e o que realmente sentem que vieram fazer neste mundo.
E aí começou a me vir na memória partes da fala do Thiago durante suas palestras, que temos que preparar os adultos para receber as crianças. E por esse motivo as portas da Ayni já está aberta, antes mesmo da escola começar a funcionar efetivamente.
E aí veio a grande sacada, a ficha caiu e tudo fez sentido.
Não precisamos de uma Nova Educação só para nossas crianças, mas para nós, adultos! Os adultos que precisam aprender a se reconectar com sua criança, com sua essência, a despertar para este novo mundo que está surgindo, se reeducar. Olhar para si, a reencontrar sua vocação, seus sonhos.
Estamos vivendo em um período muito lindo e especial no planeta Terra, quer você acredite ou não, está acontecendo. Nossa forma de pensar, agir, fazer política, economia, educação, se comunicar, cuidar do planeta, nossa forma de viver… está mudando.
E antes que me rotulem de “hippie”, “haribô”, ou qualquer outro rótulo, saiba que isso não é viagem, o mundo já começou a caminhar nesta direção. São cientistas, empresários, pesquisadores, professores, pessoas que perceberam que o mundo na direção que está indo não é sustentável, está na hora de rever todo nosso modo de pensar e agir. O planeta, a sociedade já estão dando os sinais, são desastres naturais, mudanças climáticas, guerras, crises econômicas, crises políticas, estresses, angústias, depressões, doenças…
Precisamos reaprender como viver, como voltar a conviver em comunidade, como voltar a viver em comunhão com a natureza. Recuperar nossa confiança nos indivíduos, acreditar na Lei da Abundância, nos conectar com a espiritualidade, com nossa Casa, o planeta Terra.
Não tem lógica 1% da população global ter a mesma riqueza que os 99% restante. Não tem lógica uns terem tanto, enquanto outros tantos passam fome, isso não é normal. Não tem lógica a competição por bens, a competição entre si. Não tem lógica a super produção de bens, extraindo cada vez mais os recursos naturais da Terra e gerando um acúmulo de lixos que não se sabe onde, e nem como descartar. Não tem lógica daqui 34 anos, segundo estudos, termos mais plásticos do que peixes nos oceanos. Não tem lógica termos líderes políticos que pensam apenas nos seus interesses pessoais, enquanto sua responsabilidade, sua missão é pensar no bem público. Não tem lógica tantas pessoas infelizes, angustiadas, estressadas. Nada disso tem lógica, chegamos em um ponto que não dá mais. E muitos já chegaram no seu limite e buscam hoje respostas para mudar.
Mudar seu modo de viver, mudar seu modo de agir e mais do que respostas, querem saber o que podem fazer para mudar o curso dessa trajetória. E essas pessoas somos nós, os adultos, adultos que querem aprender como resgatar valores que foram perdidos, sonhos que foram deixados de lado, saúde que está indo embora… Somos nós que precisamos voltar para a escola, a escola da vida! Somos nós que temos que reaprender muita coisa. E foi engraçado em como em uma escola para crianças fui percebendo isso, não só eu, como todos que foram passando por aqui, conscientemente ou não. E acredito que esse é o imã que atraia tanta gente para cá, é nossa alma querendo juntar a tribo e mostrar que tem mais gente nesse barco, mais gente sentindo esse turbilhão de emoção, mais gente querendo se reconectar consigo mesmo. E que está na hora de mudar, de fazer algo, e esta mudança tem que começar com nós, nós somos a mudança que queremos ver.
Se somos adultos mais conscientes, criamos crianças mais conscientes, temos atitudes mais conscientes e aos poucos vamos mudando o mundo. Porque eu não tenho dúvidas que você também não está nada satisfeitx com esse mundo que estamos vivendo.
E aí você fala: “- Tá bom Carol… entendi, mas então e agora? O que eu faço? Por onde eu começo?”
Comece por você, comece se auto conhecendo. Comece com uma prática de meditação. Comece com a gentileza, a olhar nos olhos das pessoas. Comece com o “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”. Comece com o perdão a quem você acha que te fez mal, com o perdão a você mesmo. Comece com sua família, dê atenção e carinho à sua família, não adianta ser simpáticx e agradável na sua roda social, no seu trabalho, se você não é em casa. Comece desligando a TV e usando seu tempo de forma mais prazerosa e produtiva. Comece a escutar mais música, a ler mais livros. Comece cuidando da sua alimentação. Comece com o se permitir a sentir, mesmo que no início não sejam sentimentos bons. Comece com o querer mudar, querer sair da sua zona de conforto, querer romper os medos que te afligem. Comece com uma percepção de consumo consciente, você precisa mesmo de tudo que compra? Cuidado com os excedentes, resgate as práticas de trocas, empréstimos, desapegos. Comece com a separação de lixo. Comece com a reutilização de coisas que descartaria. Simplesmente comece… e comece com um sorriso.
E sobre as nossas crianças e uma nova educação? Ah… esses são nossos verdadeiros mestres. O que precisamos é desaprender tudo que nos ensinaram sobre o que é vida, sucesso e como viver… e sentir. Voltarmos a sermos crianças e nos conectarmos com nossos sonhos, nossos brilhos nos olhos, brincadeiras, resgatar nossa essência, nosso Ser.
E foi isso que aprendi aqui, nessa escola no meio do bosque. :)
